Em tempos de COVID-19…
um contributo do serviço de Psicologia do CBEI
As últimas semanas têm-se revelado um verdadeiro desafio para todos nós. A situação que atravessamos atualmente é inédita, confusa e deixa-nos repletos de dúvidas, inseguranças e inquietações.
Num momento delicado como este, o serviço de psicologia do CBEI vem dar o seu contributo, partilhando neste espaço alguns conteúdos que, esperamos, sejam úteis e que contribuam para a manutenção do bem-estar nestes tempos incertos.
Pretende-se que este seja um espaço de partilha para todos, acreditando que juntos e num esforço concertado, com espírito cívico e senso de comunidade, respeitando e cumprindo criteriosamente as recomendações e orientações das entidades oficiais (Organização Mundial de Saúde (OMS) e Direção-Geral de Saúde (DGS)), seremos capazes de ultrapassar este período mais difícil e retomar as nossas rotinas habituais.
A informação disponibilizada neste espaço terá por base as orientações da OMS e da DGS, bem como as indicações e recomendações da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), sendo regularmente atualizada.
O serviço de Psicologia coloca-se desde já à disposição para responder às vossas questões através do e-mail ensino.psicologia@cbei.pt
Gestão Emocional e Rotinas!
O serviço de Psicologia volta até vós e hoje dirigimo-nos sobretudo a quem se encontra em casa a cumprir as orientações emanadas pelo estado de emergência decretado. Estar há dias ou semanas sem sair de casa é um desafio para todos. A incerteza associada ao tempo durante o qual será necessário manter o isolamento e o facto de o mesmo estar a ser imposto por uma ameaça invisível, como é o caso do coronavírus, faz com que seja natural sentirmos ansiedade, stress, medo, aborrecimento, tristeza, desespero, raiva…
Assim, é importante identificarmos essas emoções e esses estados, percebermos que é normal estarmos a experienciá-las neste período mais confuso e mobilizarmos estratégias adequadas para lidar com as mesmas.
Vamos às perguntas que se impõem:
Como regular as emoções em período de isolamento?
No sentido de promover a saúde mental em tempos de pandemia, a OMS emitiu um conjunto de recomendações dirigidas à população em geral, aos profissionais de saúde e aos cuidadores de crianças e idosos ou pessoas com problemas de saúde que se encontram em casa, em isolamento.
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Entre essas recomendações destacamos as seguintes:
- Reduzam o tempo que despendem a ver ou ouvir notícias que considera perturbadoras. É essencial manterem-se atualizados sobre o que se passa, mas devem limitar a exposição a notícias que possam aumentar a ansiedade e preocupação.
- Consultem fontes de informação fiáveis. É importante ter uma visão crítica face às informações que vão sendo partilhadas, optando sempre por aceder aos dados divulgados por instituições oficiais, como a OMS e a DGS.
- Protejam-se e apoiem os outros, ajudando-os em momentos de necessidade. O auxílio dado aos outros pode ajudar não só quem recebe o apoio como quem o oferece.
- Criem oportunidades para apelar a histórias e imagens positivas de pessoas que tiveram COVID-19. Por exemplo, experiências de pessoas que recuperaram da doença.
- Mantenham as rotinas familiares tanto quanto possível e adotem novas rotinas, sobretudo se estiver em casa com crianças.
É neste último ponto que nos focaremos nesta publicação: na importância das rotinas durante o período de isolamento, como estratégia auxiliadora na regulação emocional e comportamental.
Uma das estratégias-chave para assegurar uma regulação emocional e comportamental adequada neste período é a adaptação e manutenção das ROTINAS.
As rotinas contribuem para um estado de segurança, pois conferem previsibilidade ao dia-a-dia, permitindo antecipação de cenários e uma maior sensação de controlo, importante para a manutenção da estabilidade emocional nestes tempos incertos. Sobretudo para as crianças pequenas, esta previsibilidade conferida pelas rotinas é de extrema importância, pois assumem-se como fatores de apoio externo à regulação emocional e comportamental necessária, contribuindo para uma melhor e mais eficaz gestão de comportamentos desadequados como as famosas “birras”. Se a criança já sabe como vai ser o seu dia e vê espelhado nessa rotina criada tempos para realizar ações de natureza diferente, estará mais preparada para gerir o seu comportamento e as suas emoções ao longo do dia.
Assim, em casa tentem adaptar as rotinas ao novo contexto no que respeita às horas de refeição, de sono, de estudo e trabalho, de lazer e de descanso, criando novas rotinas que se estenderão pelo tempo necessário à sua existência.
Como conseguimos fazer?
1. Criem, em conjunto e considerando as sugestões das crianças e jovens, um horário semanal com a indicação dos tempos e atividades a realizar. Negoceiem e façam uma gestão familiar do tempo de exposição aos ecrãs e do tempo de acesso à internet. Façam uma lista das atividades que mais gostam de fazer e fixem-na num lugar visível da casa, reservando um período do dia, todos os dias, para se dedicarem a essas atividades.
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- Levantem-se e deitem-se à hora habitual, vistam-se e façam as refeições a horas. Tal ajuda a promover um senso de previsibilidade das tarefas, o que contribui para a regulação das emoções.
- Mantenham uma alimentação equilibrada. É importante para a saúde física e mental, bem como para se sentirem com mais energia. Privilegiem o consumo de frutas e vegetais. Consumam, por dia, pelos menos 5 porções destes alimentos.
- Pratiquem exercício físico. Mesmo dentro de casa, é possível! Caminhem pela casa, levantem-se várias vezes por dia, dancem, façam yoga ou exercícios simples de fortalecimento do corpo no chão de casa, joguem Twister. Sejam criativos!
- Determinem horários para trabalhar/estudar/aprender. No caso de terem em casa crianças em idade escolar, peçam aos professores que enviem por email informação de estudo, atividades ou trabalhos. Para crianças em idade pré-escolar, vejam o nosso site com sugestões propostas pela equipa pedagógica do CBEI, visitem a página da DGE (ver aqui) com algumas sugestões de atividades ou outras indicadas no final desta publicação.
- Aproveitem para fazer algumas coisas para as quais não costumam ter tempo. Encarem a situação de isolamento como uma oportunidade de passarem mais tempo em família e realizem atividades em conjunto. Vejam vídeos ou fotografias antigas. Façam o vosso arco-íris em conjunto e escrevam “Vai ficar tudo bem”. Arrumem os roupeiros e gavetas de casa: as roupas que já não servem podem ser doadas a instituições. O tanto que se pode fazer e o tão melhor que é fazê-lo em conjunto!
- Façam coisas de que gostam. Brinquem em conjunto. Tentem não recorrer exclusivamente à televisão, ao tablet e a outras tecnologias. Aproveitem para fazer jogos de tabuleiro, mímica, trabalhos manuais, desenhos, leitura de histórias, receitas simples com a ajuda dos mini-chefs, almoços e jantares virtuais com os familiares e amigos, um diário de bordo dos tempos de isolamento decorado e construído em conjunto para mais tarde recordarem os momentos que passaram e como ultrapassaram este período.
- Conversem com pessoas em quem confiam. Contactem familiares e amigos através do telefone, das redes sociais ou das videochamadas. O distanciamento é apenas físico, não social – a OMS veio mudar a terminologia (ver aqui) – pois nesta fase é essencial que nos mantenhamos fisicamente afastados, mas socialmente próximos, como forma de partilhar experiências, preocupações e dúvidas e podermos mais facilmente gerir as emoções de forma ajustada.
- Garantam que, sendo possível, os adultos cuidadores têm algum tempo apenas para si próprios. Procurem relaxar, ver o vosso programa favorito, ouvir música, ler um livro, ver um filme ou série. Assegurem que, no caso de haver mais do que uma criança em casa, possa haver espaço para realizarem atividades em separado.
10. Mantenham a esperança e a confiança de que tudo vai correr bem. Confiem nas vossas capacidades para lidar com situações difíceis, no trabalho dos profissionais de saúde e procurem recordar estratégias que utilizaram em situações adversas no passado e que se revelaram úteis.
Leituras sugeridas e outros recursos:
- História “A minha avó tem coronavírus” (ler aqui)
- História “Quando a minha escola abrir” (ler aqui)
- CoronaKids: Vamos aprender sobre o vírus e evitar o contágio
(Ir para coronakids.pt) - Jogo “STOP Contágio”.
Jogo online criado pela Ideias com História para a DGS, desenvolvido conjuntamente e baseado em dúvidas colocadas pelas próprias crianças
(Ir para stopcontagio.pt)
Para terminar, lembrem-se e transmitam novamente esta ideia às crianças: o período de isolamento não irá durar para sempre. É importante que, por agora, se mantenham em casa para que brevemente possam voltar a ver e abraçar os familiares e amigos de quem já têm saudades.
Por enquanto, fiquem em casa. Aproveitem o tempo da melhor maneira. Mantenham as vossas rotinas. Sejam criativos!
Fontes:
Ordem dos Psicólogos Portugueses
Organização Mundial de Saúde