Em tempos de COVID-19…

um contributo do serviço de Psicologia do CBEI

As últimas semanas têm-se revelado um verdadeiro desafio para todos nós. A situação que atravessamos atualmente é inédita, confusa e deixa-nos repletos de dúvidas, inseguranças e inquietações.

Num momento delicado como este, o serviço de psicologia do CBEI vem dar o seu contributo, partilhando neste espaço alguns conteúdos que, esperamos, sejam úteis e que contribuam para a manutenção do bem-estar nestes tempos incertos.

Pretende-se que este seja um espaço de partilha para todos, acreditando que juntos e num esforço concertado, com espírito cívico e senso de comunidade, respeitando e cumprindo criteriosamente as recomendações e orientações das entidades oficiais (Organização Mundial de Saúde (OMS) e Direção-Geral de Saúde (DGS)), seremos capazes de ultrapassar este período mais difícil e retomar as nossas rotinas habituais.

A informação disponibilizada neste espaço terá por base as orientações da OMS e da DGS, bem como as indicações e recomendações da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), sendo regularmente atualizada.

O serviço de Psicologia coloca-se desde já à disposição para responder às vossas questões através do e-mail ensino.psicologia@cbei.pt

Vamos falar de emoções!
(PARTE 1)

Mais uma semana, mais um contributo do Serviço de Psicologia neste espaço de partilha “Em tempos de COVID-19”.

Esperamos que se encontrem todos bem e que as palavras sobre resiliência que vos deixámos vos tenham sido úteis e, de alguma maneira, encorajadoras.

Esta semana, uma vez que a temática das emoções tem estado presente de uma forma transversal nas diferentes publicações que temos disponibilizado neste espaço, consideramos que merecem um ‘grande plano’ e que se fale exclusivamente sobre elas!

Tendo em conta o tanto que se pode dizer sobre emoções, esta publicação encontrar-se-á dividida em duas partes. Nesta primeira parte, falar-vos-emos sobre o que são emoções e abordaremos em maior detalhe as emoções MEDO, ALEGRIA e RAIVA. Na segunda parte, falar-vos-emos sobre mais três emoções: a tristeza, a repulsa e a surpresa.

A partir das informações que vos deixamos, poderão sempre explorar este tema com os especialistas em emoções que têm em casa: as vossas (nossas) crianças e adolescentes.

Vamos lá!

O que são emoções?

O conceito de “emoção” não tem uma definição consensual, pois são vários os investigadores que se dedicam ao seu estudo e que, em alguns aspetos, não partilham do mesmo entendimento face ao que são emoções. Há até autores que dizem que “todas as pessoas sabem o que é uma emoção, até lhes pedirem que deem uma definição”, o que traduz a dificuldade em expressar o significado deste conceito.

continuar a descobrir o que são emoções

Ainda assim, existem alguns pontos comuns entre as definições apresentadas pela comunidade científica, pelo que, fazendo apelo a esses aspetos, podemos afirmar que:

As emoções correspondem a variações psíquicas e físicas desencadeadas por um estímulo, sendo experienciadas de forma subjetiva e automática pelas pessoas e caracterizando-se pela ocorrência de reações fisiológicas (por exemplo, aumento do batimento cardíaco e respiração mais acelerada) e comportamentais (por exemplo, ao colocar as pessoas num estado de resposta ao estímulo).

Desta forma, as emoções, segundo o neurocientista português António Damásio, são ferramentas que nos permitem analisar o ambiente que nos rodeia e reagir ao mesmo de uma forma adaptativa, ou seja, adequada à situação. Além disso, as emoções permitem-nos manter o equilíbrio interno do nosso organismo, tendo um papel fundamental na manutenção da nossa segurança e, em última análise, da nossa sobrevivência.

Existe uma infinidade de emoções, encontrando-se estas organizadas por categorias. Seis delas, que muitos especialistas consideram ser as primeiras que se podem identificar até mesmo em recém-nascidos, são as emoções básicas: o medo, a alegria, a raiva, a tristeza a repulsa e a surpresa.

Esta semana, vamos aprender mais sobre o MEDO, a ALEGRIA e a RAIVA!

Para descobrirem mais sobre essas emoções, CLIQUEM NOS ÍCONES ABAIXO

MEDO

O que desencadeia o MEDO?

MEDO

O medo pode surgir na presença real ou imaginada de um estímulo potencialmente ameaçador para o nosso bem-estar físico e/ou psicológico.

Pode ser medo do escuro, medo de andar de avião, medo de alturas, medo de aranhas, medo de ser contagiado pelo novo coronavírus, entre outros.

De que é que têm medo?
Explorem em conjunto o que vos assusta e deixa com medo, sobretudo nesta altura.

Como se expressa o MEDO?

Quando sentimos medo, a frequência cardíaca aumenta, a temperatura da pele baixa e a respiração fica entrecortada, algumas vezes entrando em hiperventilação.

Já sentiram isto no vosso corpo? Têm-no sentido nos últimos tempos?

O medo leva-nos a erguer as sobrancelhas e a ficar com os olhos tensos e muito abertos. Podemos ficar mais retraídos e com os músculos contraídos.

Experimentem fazer uma cara assustada. É difícil?

Quando estamos com medo, tendemos a focar toda a nossa atenção no estímulo ameaçador e na necessidade que temos de nos protegermos, pelo que há uma limitação dos nossos processos atencionais e dos nossos comportamentos.

Nos momentos em que temos medo e estamos conscientes disso, é-nos difícil sentir ou pensar em mais alguma coisa, dado termos toda a nossa atenção centrada na ameaça ou no perigo. Assim, caso esse medo seja excessivamente intenso, interfira significativamente com a nossa vida diária e nos impeça de realizar as nossas atividades habituais, devemos procurar a ajuda de um psicólogo.

Neste momento, muitos psicólogos estão a disponibilizar acompanhamento online, o nosso serviço de psicologia está preparado para fazê-lo também (caso seja utente envie email para ensino.psiocologia@cbei.pt) sendo também possível procurar apoio psicológico através da linha SNS 24 através do 808 24 24 24 (selecionar a opção 4 – aconselhamento psicológico). Tomem nota!

Qual a função adaptativa do MEDO? Para que serve? Porque é importante?

O medo contribui para protegermos a nossa integridade física e psicológica, motivando-nos para aprender mais sobre a ameaça ou perigo e dando-nos a energia necessária para fugirmos ou lidarmos com situações potencialmente perigosas.

Numa intensidade e frequência moderadas, o medo contribui para a nossa proteção face a um potencial risco, salvaguardando a nossa segurança e bem-estar.

Num contexto de pandemia como o que nos encontramos, o medo de ficarmos doentes, se numa intensidade moderada, pode ajudar-nos a adotar os comportamentos necessários à nossa proteção e à dos outros.

Do ponto de vista da evolução das espécies, o medo é uma das estratégias que temos para sobreviver e manter a nossa integridade face aos perigos que nos rodeiam, sendo por isso extremamente importante!


ALEGRIA

O que desencadeia a ALEGRIA?

ALEGRIA

A alegria surge perante a ocorrência de acontecimentos positivos ou favoráveis para nós, sendo ativada sempre que uma situação negativa ou neutra se transforma numa situação positiva.

Por exemplo, quando encontramos um amigo que não víamos há muito tempo, quando recebemos um elogio, quando ganhamos um prémio ou somos promovidos no trabalho… São inúmeras as situações que podem levar-nos a sentir alegria.

Neste período de isolamento, em que momentos ou face a que situações sentiram alegria? Apesar de este ser um momento particularmente desafiante para nós, procurem refletir sobre o que vos tem deixado alegres durante o tempo em que estão em casa. Quando é que se sentiram alegres durante o isolamento? Partilhem uns com os outros estas reflexões!

Como se expressa a ALEGRIA?

Quando nos sentimos alegres ocorre um aumento da frequência cardíaca, a respiração fica irregular e a condutância da pele (atividade das glândulas sudoríparas) aumenta. Com a alegria ocorre a libertação de substâncias químicas como a dopamina e a noradrenalina.

Quando sentimos alegria, ficamos com as bochechas e os cantos da boca erguidos, os olhos estreitados, as zonas laterais do nariz elevadas e o queixo esticado. É fácil identificarmos esta emoção.

Façam a melhor cara alegre que conseguirem!

Qual a função adaptativa da ALEGRIA? Para que serve? Porque é importante?

De uma maneira geral, a alegria proporciona-nos uma sensação de bem-estar físico e psicológico.

Esta emoção ajuda-nos a ter uma maior abertura face às experiências que nos rodeiam e torna-nos mais recetivos e eficientes na comunicação com os outros, favorecendo o estabelecimento de relações sociais.

A alegria serve-nos de recompensa pelos nossos esforços e sucessos, promove a capacidade de resolução de problemas e a criatividade, bem como ameniza os efeitos causados pelo stress e a ansiedade, tão comuns nos últimos tempos. Além disso, a alegria potencia um estado de tranquilidade e permite-nos recuperar de situações negativas, inibindo a ocorrência de pensamentos intrusivos e desagradáveis.

Sentirmo-nos alegres contribui para o reforço da nossa autoestima, bem como para a proteção do nosso sistema imunológico, sendo por isso importantíssimo que, durante o isolamento, procuremos criar momentos e realizar atividades que nos deixem alegres como forma de promovermos o nosso bem-estar físico e psicológico.


RAIVA/ZANGA

O que desencadeia a RAIVA?

RAIVA

A raiva surge quando uma pessoa é confrontada com obstáculos ou entraves que a impedem de atingir um objetivo pretendido.

Neste período de pandemia, é natural que possam sentir raiva ou zanga. No fundo, a COVID-19 constitui-se como um obstáculo ao alcance dos nossos objetivos e um entrave face ao habitual curso das nossas vidas.

Como se expressa a RAIVA?

A raiva caracteriza-se pela ocorrência de um aumento na pressão sanguínea, nos batimentos cardíacos, na temperatura da pele e nos níveis de algumas hormonas, como a adrenalina.

Quando alguém sente raiva, aos olharmos para o seu rosto, podemos observar que as sobrancelhas ficam franzidas e juntas, a testa enruga-se, os olhos cerram-se, o nariz contrai-se, as narinas dilatam, a boca fica aberta ou os lábios cerrados e o queixo contrai-se.

Experimentem fazer uma cara zangada e tentem observar estes aspetos!

Além disso, a raiva pode manifestar-se através de comportamentos como gritos, insultos, ameaças e discussões ou por agressões, brigas, empurrões, entre outros.

Os comportamentos permitem-nos tirar conclusões sobre o que os outros estão a sentir.

Como costumam expressar a vossa raiva/zanga?

Qual a função adaptativa da RAIVA/ZANGA? Para que serve? Porque é que é importante?

Apesar de a raiva poder estar ligada a comportamentos agressivos, pode também estar relacionada com a regulação de uma relação, permitindo a alteração dos seus padrões de funcionamento, quando necessário.

Embora esta emoção possa ter uma conotação negativa, por estar associada a uma certa hostilidade, a verdade é que a raiva é funcional, uma vez que nos ajuda a organizar e regular processos fisiológicos e psicológicos ligados à autodefesa e permite-nos gerir os comportamentos sociais, dando-nos a energia necessária para ultrapassar os obstáculos aos objetivos pretendidos.


Depois desta viagem pelas emoções MEDO, ALEGRIA e RAIVA, convidamos-vos a inspirarem-se nas sugestões que vos fomos deixando e a pô-las em prática!

Para a semana voltamos com a segunda parte desta publicação onde vos falaremos sobre a TRISTEZA, a REPULSA e a SURPRESA.

Até lá, fiquem bem. Protejam-se!


Fontes:

  • Damásio, A. (2000). O erro de Descartes: Emoção, razão e cérebro humano. Lisboa: Publicações Europa América.
  • Dias, C., Cruz, J. F., & Fonseca, A. M. (2008). Emoções: passado, presente e futuro. Psicologia22, 11-31. 
  • Schaffer, H. (2008). Introdução à psicologia da criança. Lisboa: Instituto Piaget.
 
 

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