
Em tempos de COVID-19…
um contributo do serviço de Psicologia do CBEI
As últimas semanas têm-se revelado um verdadeiro desafio para todos nós. A situação que atravessamos atualmente é inédita, confusa e deixa-nos repletos de dúvidas, inseguranças e inquietações.
Num momento delicado como este, o serviço de psicologia do CBEI vem dar o seu contributo, partilhando neste espaço alguns conteúdos que, esperamos, sejam úteis e que contribuam para a manutenção do bem-estar nestes tempos incertos.
Pretende-se que este seja um espaço de partilha para todos, acreditando que juntos e num esforço concertado, com espírito cívico e senso de comunidade, respeitando e cumprindo criteriosamente as recomendações e orientações das entidades oficiais (Organização Mundial de Saúde (OMS) e Direção-Geral de Saúde (DGS)), seremos capazes de ultrapassar este período mais difícil e retomar as nossas rotinas habituais.
A informação disponibilizada neste espaço terá por base as orientações da OMS e da DGS, bem como as indicações e recomendações da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), sendo regularmente atualizada.
O serviço de Psicologia coloca-se desde já à disposição para responder às vossas questões através do e-mail ensino.psicologia@cbei.pt
Regulação emocional
(PARTE 2)
O serviço de Psicologia está, uma vez mais, de volta!
Esperamos que se encontrem bem e que o desconfinamento continue a decorrer de forma tranquila, ainda que com todos os desafios que lhe estão, naturalmente, associados. A pouco e pouco, vamos sendo cada vez mais capazes de lidar com esta nova realidade. Acreditem nas vossas capacidades para tal!
Como vos dissemos na publicação anterior “Regulação emocional (Parte 1)”, desta vez vamos deixar-vos algumas sugestões sobre como podem regular as restantes emoções básicas: a TRISTEZA, a REPULSA e a SURPRESA.
Inspirem-se e, com persistência e determinação, conseguirão tornar-se em verdadeiros super-heróis da regulação emocional!
Para descobrirem as estratégias de regulação que vos sugerimos para estas três emoções, CLIQUEM NOS ÍCONES ABAIXO.
TRISTEZA
tristeza
A par do medo, também a tristeza é uma emoção que poderá estar muito presente em cada um de nós neste período que atravessamos.
É natural e expectável que isso aconteça, pelo que é importante que sejam capazes de identificar essa emoção em vós e ajudar as crianças e adolescentes a fazer o mesmo, assim como consigam encontrar estratégias para lidar com ela de uma forma eficaz e adequada.
Estamos aqui para vos ajudar nessa parte!
Para regular a tristeza, nós, adultos, podemos (e devemos!):
- Identificar o que sentimos e o que está na origem dessa emoção
- Se sentirmos a necessidade de chorar, é importante que o façamos
- Conversar com familiares e amigos da nossa confiança
- Realizar atividades que gostamos e nos dão prazer e satisfação
(cozinhar, ler um livro, ouvir música, ver um filme ou série, fazer origami, dançar, pintar… O tanto que há para fazer! Podem também aproveitar para fazer uma caminhada breve ou um passeio higiénico para espairecer) - Fazer planos
(a situação em que nos encontramos não irá durar para sempre. Pensem no que irão fazer no futuro, quando esta etapa mais conturbada da “viagem” passar. Dessa forma, conseguirão cultivar a esperança e fortalecer-se para seguirem em frente)
Caso a tristeza seja prolongada no tempo, os pensamentos negativos recorrentes, as atividades que anteriormente vos eram prazerosas deixaram de ter esse efeito e têm mais dificuldades em manter as vossas rotinas, lembrem-se que é importante procurarem a ajuda especializada de um psicólogo.
Caso precisem, estamos disponíveis para ajudar através do e-mail ensino.psicologia@cbei.pt, sendo também possível obterem ajuda através da linha SNS 24 através do 808 24 24 24.
E quando as crianças se sentem tristes?
Nessas situações, podemos (e devemos!):
- Escutar a criança sobre o que sente, incentivando-a a conversar sobre isso e demonstrando-nos disponíveis para ouvir e acolher o que ela quiser transmitir
- Validar a emoção da criança, revelando compreensão face ao modo como ela se sente
- Ajudar a criança a identificar o que está na origem da sua tristeza
- Incentivar a criança a fazer um desenho ou a criar uma representação daquilo que a está a fazer sentir triste, por exemplo, com uma construção em plasticina, com um teatro de fantoches ou noutros materiais à sua escolha
- Ajudar a criança a encontrar soluções para resolver a sua tristeza
(por exemplo, fazer uma videochamada com os avós ou com um amigo, fazer em casa um jogo que costuma fazer na sala com os amigos) - Procurar transmitir segurança e esperança à criança, ajudando-a a focar-se em aspetos positivos
(por exemplo, caso a criança se sinta triste por ter saudades da escola, poderão transmitir-lhe que em breve poderá voltar a ver os amigos e os adultos da sala. Outro aspeto importante a transmitir à criança é o de dizer-lhe que no regresso irá ver os adultos a usar um novo acessório, a máscara, explicando-lhe que tal serve para se protegerem e protegerem os outros de ficarem doentes. Dessa forma é possível gerir expectativas e preparar a criança para o que irá encontrar quando voltar ao CBEI, transmitindo-lhe uma maior tranquilidade e segurança aquando do regresso)
REPULSA
repulsa
Recuperando o que deixámos na publicação “Vamos falar de emoções (Parte 2)”, a repulsa é uma emoção que nos ajuda a proteger-nos de algo que nos pode ser prejudicial ou nocivo, permitindo-nos salvaguardar a nossa integridade física e psicológica.
Contudo, nem sempre a repulsa nos ajuda. Por vezes, esta emoção impede-nos de “alargarmos os nossos horizontes” tanto do ponto de vista pessoal como social ou leva-nos a desrespeitar ou a ser desagradáveis com os outros.
Assim, e uma vez que a repulsa é uma emoção com estreita ligação com os nossos pensamentos, é possível e importante regularmos a forma como experienciamos e expressamos esta emoção.
Vamos ver como…
Para ser mais fácil de perceber, deixamos-vos este exemplo:
Imaginem que sentem repulsa de minhocas e que isso vos impede de experimentarem uma atividade nova: fazer jardinagem.
A forma mais eficaz de regular a repulsa contra as minhocas e ser mais fácil experimentar esta nova atividade é exporem-se gradualmente ao estímulo gerador da aversão até ao ponto em que ver ou tocar numa minhoca passe a ser-vos tolerável.
- Podem começar por procurar imagens de minhocas (estímulo aversivo)
- Quando observar as imagens vos for tolerável, passem para a confrontação com o estímulo causador da emoção
(Atenção! Façam-no progressivamente) - Comecem apenas por observar as minhocas
- Quando isso vos for tolerável, tentem tocar numa delas
(A princípio poderá ser estranho e desconfortável, mas a pouco e pouco tornar-se-á mais fácil) - Assim que forem capazes de tolerar até mesmo tocar nas minhocas, terão ultrapassado a barreira que vos impedia de pôr as mãos à obra na jardinagem
Se tiverem muita motivação e forem persistentes, serão capazes de regular a repulsa e descobrir que uma diversidade de atividades prazerosas e divertidas passam a estar ao vosso alcance.
Estas estratégias podem ser aplicadas a outros estímulos geradores de repulsa, assim como a estímulos causadores de medo, podendo ser utilizadas tanto por adultos como por crianças.
E quando sentimos repulsa face a outras pessoas?
Por vezes, sentimos repulsa relativamente aos outros por diferentes motivos (a repulsa está, em algumas situações, ligada a aspetos da experiência pessoal, da cultura e da socialização) e isso poderá trazer-nos consequências negativas do ponto de vista social, ao levar-nos a adotar comportamentos desagradáveis perante os outros ou ao impedir-nos de conhecer melhor outras pessoas e de aproveitarmos as experiências positivas que elas nos podem oferecer.
Nessas situações, a melhor estratégia a utilizar é:
-
- Ser empático
A empatia, ou seja, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, olhando a realidade do seu ponto de vista, leva-nos a aproximarmo-nos do “mundo” do outro e a tentar compreender a sua forma de pensar, sentir e comportar-se.
Quando somos empáticos, somos mais capazes de compreender a realidade do outro e temos uma maior capacidade para lhe oferecermos ajuda em caso de necessidade e criarmos com ele uma relação mais positiva.
SURPRESA
surpresa
Como explicámos na publicação “Vamos falar de emoções (Parte 2)”, a surpresa é uma emoção que dura breve instantes e surge na sequência de um acontecimento inesperado. Esta emoção rapidamente dá lugar a outra, consoante o acontecimento inesperado com que fomos confrontados seja, para nós, mais positivo ou negativo.
Por exemplo, se recebemos a notícia de que ganhámos um prémio, inicialmente sentimos surpresa para, de seguida, sentirmos alegria. Por outro lado, se, ao chegarmos a casa encontrarmos na caixa do correio uma multa por excesso de velocidade, reagimos com surpresa para, logo de seguida, sentirmos raiva/zanga.
Neste sentido, dada a natureza instantânea e repentina desta emoção, que rapidamente dá lugar a uma outra, torna-se muito difícil regular a surpresa, sendo importante sermos capazes de regular a emoção que lhe sucede, colocando em prática algumas das estratégias de regulação emocional que vos fomos deixando quer nesta publicação, quer na publicação anterior, “Regulação emocional (Parte 1)”.
Ainda assim, deixamos-vos aqui uma curiosidade!
A surpresa estimula a região do cérebro responsável pelo armazenamento e processamento de memórias – o hipocampo, pelo que esta emoção funciona como um motor da nossa memória, sendo por isso muito importante para nós! Por isso é que nos é mais fácil recordarmos alguns momentos da nossa infância do que aquilo que comemos no dia anterior.
Os investigadores observaram que o hipocampo fica mais ativo quando as pessoas são confrontadas com estímulos inesperados do que com estímulos habituais. Dessa forma, é-nos mais fácil recordarmos acontecimentos que nos causaram surpresa do que aqueles que nos são familiares.
Agora, sempre que sentirem uma das emoções que aqui abordámos, lembrem-se das estratégias que vos sugerimos para lidar com elas!
A forma como regulam as emoções influencia a maneira como as vivenciam e expressam. Regularmos as nossas emoções, como viram, não implica que estejamos sempre felizes, mas que sejamos capazes de lidar mais eficazmente com o que sentimos, mantendo o nosso bem-estar psicológico, sendo capazes de atingir os nossos objetivos e de funcionarmos socialmente de uma forma mais adequada.
Embora leve algum tempo e seja necessário praticarmos e ensinarmos às crianças e adolescentes como podem regular as suas emoções, esta é uma competência que, como viram, está ao alcance de todos.
Por esta semana é tudo. Continuem a proteger-se!
Fiquem bem e até à próxima!